A pesquisa “As Mulheres nas
Instituições Policiais”, do Fórum Brasileiro de
Segurança Pública (FBSP), mostrou que 39,2% das
policiais declaram ter sido vítimas de algum tipo de
assédio (moral ou sexual) dentro da corporação. Dentre
essas, 74,5% se declaram vítimas de assédio moral e
25,5% afirmam ter sido assediadas sexualmente,
sentindo-se desrespeitadas ou forçadas a dar
consentimento. Entre os homens, dos 20,1% que declararam
que foram assediados, 95,6% sofreram assédio moral. De
acordo com a pesquisa, apenas 11,8% das policiais
prestaram queixa do assédio e, destas, 68% não ficaram
satisfeitas com os desdobramentos da denúncia. No caso
dos homens, 11,7% prestaram queixa e 80,7% deles não
ficaram satisfeitos com o resultado. Entre os desfechos
citados, estão o arquivamento da denúncia, sindicância
interna, advertência formal, transferência do
denunciado, promoção do denunciado, além daqueles que
desconhecem o desfecho. A pesquisa mostrou que 57,4% das
2.415 policiais entrevistadas acreditam que o
comportamento das mulheres no trabalho pode incentivar
comentários inapropriados ou assédio, tanto moral quanto
sexual. Entre os policiais que responderam à pesquisa,
63,2% compartilham da mesma opinião. Segundo a diretora
executiva do FBSP, Samira Bueno, é preciso desmistificar
essa visão, porque as mulheres não podem ser
responsabilizadas pela violência que sofrem. “É
interessante ver como isso está colocado na cabeça das
mulheres, um reflexo da cultura machista que faz parte
da nossa sociedade”, disse. Além disso, 40,4% das
entrevistadas acreditam que as mulheres usam de troca de
favores sexuais para ascender hierarquicamente na
instituição. O FBSP fez em parceria com o Núcleo de
Estudos em Organizações e Pessoas da Fundação Getulio
Vargas, a Secretaria Nacional de Segurança Pública do
Ministério da Justiça e o Centro de Estudos de
Criminalidade e Segurança Pública da Universidade
Federal de Minas Gerais. Foram ouvidos 13.055 policiais
em todo país, de 12 a 26 de fevereiro deste ano, das
polícias Civil, Militar, Técnico-Científica, Federal e
Rodoviária Federal, Corpo de Bombeiros e guardas
municipais. A pesquisa foi respondida voluntariamente
por meio de formulário eletrônico. De acordo com Samira,
os resultados também mostram a perspectiva dos homens em
relação à mulheres e os níveis de violência a que são
submetidas. “As mulheres estão mais vulneráveis ao
assédio. Se compararmos as respostas, é mais comum para
as mulheres perceber piadas ou comentários inapropriados
como formas de violência, e os homens não entendem isso
como ofensa. Mas 62,9% das mulheres passaram por essa
situação.” Ela explicou que o objetivo da pesquisa era
explorar as relações de gênero nas instituições de
segurança pública, tendo em vista o crescente
protagonismo das mulheres nesse trabalho. Segundo o
FBSP, estima-se que o Brasil tenha cerca de 75 mil
policiais , ou cerca de 12% do universo pesquisado. “A
maior parte das policiais não sabe como denunciar, as
corporações não têm fluxo definido para quando esse
assédio acontece. As corregedorias, em tese, podem
receber denúncias, mas não têm protocolos ou normativas,
é muito subjetivo”, disse Samira. Entre os canais usados
pelos policiais para denúncias, estão a corregedoria e a
ouvidoria, delegacias de polícia, o Ministério Público e
as entidades de classe (associação ou sindicato).
Agencia Brasil