Para Gomes, sofrência de Pablo ‘é canalhice’. Fotos: Ag. Haack
Edson Gomes, maior nome do reggae
baiano, parece não ter gostado da popularização do termo ‘sofrência’.
Não pelo menos da forma como ele, recentemente, ganhou popularidade,
normalmente associado ao ‘sofrimento’ causado pelas músicas românticas
do arrocha de artistas como o também baiano Pablo. É que Edson afirma
ter sido o primeiro a usar a palavra ‘sofrência’ na música “Viu”, do seu
álbum de estreia de 1988 “Reggae Resistência”, o mesmo que tem
clássicos como “Sistema do Vampiro”, “Rastafary”, “Maladrinha” e
“Samarina”. Durante o show desta sexta-feira (27), quando tocou para um
público de 10 mil pessoas no bairro do Periperi em Salvador dentro do
Festival da Cidade, Edson atacou o estilo e disse que as “músicas da
sofrência” estimulavam os homens a resolver “tomar veneno de rato” e o
alcoolismo. Após a apresentação, o reggaeman nascido em Cachoeira, no
Recôncavo baiano, explicou melhor a sua ira contra a “sofrência” de
Pablo e companhia em cima do palco. “Eu joguei no ar essa palavra
sofrência, tá na minha música, agora os caras pegaram. Já consultei o
dicionário e vi que ela não existe lá. A minha sofrência é a sofrência
coletiva do povo, nós sofremos muito. Não é o que eles estão cantando aí
de amor apaixonado, que induz homem a tomar veneno de rato, a se
embriagar, a não permitir que a mulher não queira mais se relacionar. Eu
coloquei na minha música: ‘vamos acabar com tanta violência, vamos
acabar com tanta sofrência’. E agora eles estão batizando uma canalhice
como sofrência. Eu sou o criador da palavra, se não há no dicionário, eu
sou o criador”, desabafou Gomes. Questionado se a ‘sofrência’ não era
um estilo popular, muito escutado em periferias como o próprio Periperi
onde estava cantando, Gomes afirmou que “o povo não é educado para
rejeitar canalhice”. “O povo gosta de tudo, aceita tudo, coisas que
prejudicam eles mesmos”. Por fim, Edson se recusou a tecer sua opinião
sobre o que achava do cantor Pablo, símbolo-mor da ‘sofrência’ do
arrocha. “Por favor, não me force a dizer o que acho. Não force a barra.
Até porque não tem nada de bom para falar”, respondeu, aos risos.