sábado, 23 de agosto de 2014

Caminhões de comboio russo não autorizado voltam da Ucrânia


Angela Merkel e Petro Poroshenko
Angela Merkel e Petro Poroshenko participam de negociações sobre a crise na Ucrânia, em Kiev

Todos os 227 caminhões de um comboio russo que havia cruzado a fronteira leste da Ucrânia sem autorização retornaram à Rússia neste sábado.
O comboio foi até a cidade de Lugansk, que está sob controle dos grupos separatistas pró-Rússia que lutam contra tropas do governo da Ucrânia.
O Kremlin disse que os caminhões transportavam geradores, comida, bebida e outros itens de ajuda humanitária, mas autoridades ucranianas e ocidentais suspeitavam tratar-se de reforços para uma intervenção militar.
A chanceler alemã, Angela Merkel, fez mais um apelo por um cessar-fogo na capital ucraniana, Kiev, e anunciou a liberação de uma linha de financiamento de 500 milhões de euros para reconstruir a infraestrutura do país, destruída nos meses de conflito.
Ao chegar à Ucrânia para um encontro com o presidente Petro Poroshenko, Merkel disse que a entrada do comboio russo é uma "escalada perigosa" das tensões.
A Alemanha deve liberar outros 25 milhões de euros para ajuda humanitária.
Um representante da Organização para Segurança e Cooperação na Europa afirmou que apenas 37 caminhões foram vistoriados antes de cruzarem a fronteira.
O presidente da Ucrânia, Petro Poroshenko, tinha acusado a Rússia de "flagrante violação da lei internacional" após a entrada dos veículos na sexta-feira.
O comboio aguardou durante uma semana a autorização ucraniana para cruzar a fronteira, mas acabou entrando sem passar pelo controle aduaneiro de rotina e sem o acompanhamento da Cruz Vermelha, que também tentou negociar a passagem dos veículos.

'Caminhões vazios'

Autoridades russas disseram que não era mais possível esperar diante da cada vez mais grave crise humanitária no leste ucraniano.
Comboio de caminhões russos na Ucrânia (AP)
Comboio leva ajuda ao leste da Ucrânia, que considerou o ato uma 'invasão direta'

Repórteres da agência de notícias AP disseram ter visto que 40 dos cerca de cem caminhões que retornaram à Rússia no sábado estavam vazios, mas não se sabe ao certo se os outros também estavam nem o que teria sido descarregado em Lugansk.
Depois de quatro meses de confrontos entre separatistas pró-Rússia e forças ucranianas, mais de 2.000 pessoas já morreram. Mais de 330 mil foram forçadas a abandonar as suas casas.
Os Estados Unidos também afirmaram que o deslocamento do comboio russo era uma violação da soberania ucraniana e uma escalada "perigosa" do conflito.
A Casa Branca afirmou ainda que os russos deveriam recuar ou sofreriam um isolamento ainda maior.
Donetsk
Moradores da região de Donetsk estão coletando água da chuva para sobreviver à crise humanitária

Donetsk
Em quatro meses de conflito na Ucrânia, mais de 2.000 pessoas já foram mortas

Em um telefonema, o presidente Barack Obama e Angela Merkel disseram que a situação "vem se deteriorando" desde que um avião comercial da Malásia foi derrubado em território rebelde no mês passado, matando todos as 298 pessoas a bordo.
Oficiais da Otan acusam a Rússia de estar reforçando as suas tropas na fronteira e mesmo operando com artilharia dentro da Ucrânia.
No entanto, o embaixador russo no Conselho de Segurança da ONU, Vitaly Churkink, acusou os governos ocidentais de distorção da realidade.
"Às vezes, tenho a impressão de estar assistindo um filme surrealista, porque alguns integrantes do Conselho não estão preocupados com o fato de centenas de pessoas estarem morrendo", disse.
Churkink afirmou que a Rússia teve que tomar providências para não desperdiçar produtos perecíveis e que espera que a Cruz Vermelha ajude a distribuí-los.
"Esperamos o suficiente. Estava na hora de nos mexermos, e foi o que fizemos."