Primo da vítima, o ajudante-geral Fabiano Santos das Neves, de 32 anos, conta que, no sábado passado, enquanto caminhava pelo bairro, Fabiane viu uma criança sozinha na rua. Além de mexer com a criança, ela teria chegado a dar uma banana para o menino -- Fabiane havia feito compras instantes antes. Mas a mãe da criança viu a cena, e achou que a desconhecida seria a tal bruxa que assombrava a região, boato que havia sido espalhado pelo perfil do Facebook chamado "Guarujá Alerta".
"Acho que acharam que ela iria roubar aquela criança. Começaram a agredi-la por causa disso. Ela já não conseguiu falar mais logo depois do primeiro golpe", conta o primo, que não testemunhou os fatos. "Acontece que ela gostava muito de crianças. Além dos filhos dela, ela cuidava de outras três crianças durante o dia, que são filhos de uma sobrinha dela. Acho que brincou com aquele menino sem pensar", conta o primo.
A Polícia Civil estima que até 1.000 pessoas tenham ido até o bairro ver o linchamento. O único homem preso até o momento, o eletricista Valmir Dias Barbosa, de 47 anos, afirmou que pelo menos 100 participaram diretamente das agressões.
O delegado Luiz Ricardo Lara Dias Júnior, do 1º Distrito Policial do Guarujá, ouviu duas testemunhas do crime nesta terça-feira, 6. Outras duas pessoas foram ouvidas na manhã desta quarta, 7, na Delegacia Seccional da cidade. A expectativa é que novas prisões sejam feitas ainda hoje.
Dias Júnior, no entanto, afirmou que ainda não tem informações suficientes para dizer como que as agressões começaram. "Ainda estamos analisando muitas informações". O primo da vítima não foi ouvido pela polícia até o momento.
Bruxa. A fúria das pessoas que participaram do linchamento fez com que a bíblia que a dona de casa carregava na mão fosse visto como "um livro satânico". "Eles falaram que era um 'livro satânico' e tentaram rasgar. Não viram que era uma bíblia. Fui eu quem tirou o livro do chão", conta a dona de casa Carla Rosane Cunha Viana, de 47 anos, que testemunhou toda a ação. Ela aparece em um dos vídeos publicados na internet sobre o caso, pedindo para as pessoas pararem com as agressões, mas sendo ignorada.
"A bruxa estava famosa no bairro. Ela e essas histórias de sequestro de crianças. Tanto que, quando pegaram a Fabiane, todo mundo começou a espalhar isso por mensagens. Veio gente de moto, de outros bairros, todo mundo veio ver a mulher. E demorou muito, ela apanhou, foi arrastada, jogada, demorou umas duas horas. Queriam colocar fogo nela, mas a polícia chegou antes". diz Carla Rosane.