quarta-feira, 23 de setembro de 2015

Jovens presos fazem País perder produtividade


Roberta_jovem preso
Roberta, que já ostentou dinheiro do crime, hoje batalha para fazer faculdade de Direito
Quase metade de todas as pessoas presas nas unidades prisionais de Rio Preto têm entre 18 e 24 anos. O levantamento foi solicitado pelo Diário à Secretaria de Administração Penitenciária por meio da Lei de Acesso à Informação. No Centro de Detenção Provisória de Rio Preto, estão aguardando julgamento 1.801 homens. Desses, 860 são jovens entre 18 e 24 anos, ou seja, 47%. No Centro de Ressocialização Feminino (CRF), são 88 jovens de um total de 255, o que corresponde a 34% do total. São pessoas que poderiam estar no auge da produtividade profissional, mas que caíram no mundo do crime.
Foi do CRF que saiu Roberta, hoje com 32 anos. Ela foi presa em 2004 acusada de tráfico de drogas e formação de quadrila. Cumpriu seis anos de prisão no Centro de Ressocialização Feminino de Rio Preto e no presídio de segurança máxima do Tremembé (SP), onde estão presas conhecidas, como Suzane Von Richthofen e Eliza Matsunaga, ambas acusadas de homicídios com grande repercussão na mídia nacional.
Roberta perdeu bastante tempo da vida no período que estava no crime e na prisão. Apesar disso, ela afirma que mereceu ser presa e aprendeu os reais valores da vida. “Se eu não fosse presa talvez ainda estivesse no mundo do crime. Hoje, aprendi que não compensa a ilusão do poder que o crime proporciona. Perdi amigos, parentes e minha companheira nessa vida de farsa.”
Ela conta que entrou para o tráfico convidada por um “amigo”. Ao ver os ganhos que a atividade lhe proporcionaria, não teve dúvida, passou a fazer parte de uma facção criminosa (PCC).
“Eu não era da biqueira. Buscava coisa grande, distribuía e fazia a contabilidade dos irmãos. Ganhei muito dinheiro, mas gastei ainda mais com noitadas e 'ostentação'. Mas quando fui presa, tudo isso acabou, inclusive aqueles que me chamavam de amiga sumiram. Pra eles, só é bom quem está no poder, quando você perde a liberdade, perde também o prestígio”, afirma.
Roberta justifica dizendo que era muito nova na época e por isso, foi facilmente influenciada a entrar nesse mundo obscuro, de dinheiro fácil e alto risco. “Quando se é jovem, não medimos as consequências dos nossos atos. Eu poderia estar morta e ter colocado em risco a minha família. Não desejo isso para ninguém. Espero que as pessoas caiam em si e saibam que nada é mais importante no mundo do que nossa própria liberdade. Foi na prisão que passei a pensar no futuro, coisa que até então não existia na minha vida”, diz Roberta, que hoje vende adesivos decorativos para pagar a faculdade de Direito. Ela está no terceiro ano e disse que sua meta é se tornar advogada.
Casos como o de Roberta são muito comuns. De acordo com números do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), 83% das mulheres presas no País foram condenadas por tráfico de drogas. Entre os homens, o número é menor. São 59%, porém eles começam no crime mais jovens, entre 17 e 20 anos.

arte PRISAO jovens 
Jovens presos fazem País perder produtividade
O defensor público de Rio Preto Leandro de Castro Silva, especializado em Direto Penal, a maior adesão dos jovens pelo tráfico de drogas evidencia sérios problemas que o País passa, como a baixa escolaridade da população e a exclusão dessas pessoas. De acordo com ele, é preciso melhorar o atendimento aos jovens e proporcionar ensino de qualidade para evitar que eles caiam no mundo do crime. “Temos que preparar os jovens desde muito cedo, quando ainda são crianças, para que eles tenham perspectivas de futuro e não caiam na mão dos traficantes, que iludem com promessas falsas de dinheiro fácil”, afirma.
O defensor completa ainda que esse número elevado de jovens presos faz com que o Brasil perca muito em produtividade, uma vez que essas pessoas poderiam estar estudando, criando empregos e produzindo riquezas. “Perdemos mão de obra e pessoas que poderiam contribuir para o desenvolvimento do País. Pelo contrário, com tantos presos, o Estado precisa investir em presídios em vez de escolas”, diz.