Uma das escutas obtidas pelo Ministério Público mostra que o grupo que controla o crime de dentro dos presídios criou uma tática diferente para disfarçar as reuniões da quadrilha.
Bandido: Acionar a churrasqueira, colocar umas minas para ficar nadando, lá longe das ideia (reunião). Porque se porventura aí nós foi traído e os caras imbicar na caminhada (a polícia invadir a festa), nóis não vai morrer truta, porque tem Zé povinho, tem muié e tal, porque senão os caras matam nóis tudo.
O criminoso, que estava em liberdade, concluiu a conversa filosofando: “a gente tem que pensar em todos os ângulos. Não é porque a superfície está calma que não esteja acontecendo nada na profundeza.”
Quando alguém é preso, a tática dos bandidos é outra: eles tentam oferecer propina aos policiais.
Daniel Canônico, o Cego, é um dos chefes da quadrilha. Ele está preso na penitenciária de Presidente Venceslau, interior paulista, e recebe uma ligação do gerente do tráfico de drogas na região do Sacomã, em São Paulo. O gerente identificado como “jogador” está tenso e dá detalhes de sua prisão.
Jogador: Já meteu a algema ni mim, ta ligado? Era um Palio Weekend, dois cara dentro, uma moto e uma viaturona pretona civil, ta ligado?
Cego: Certo.
Jogador: Jogaram eu dentro do camburão, levaram. Chegou lá na 103 DP de Itaquera, ta ligado? Ai fomo pras ideia. Ideia vai, ideia vem, e os cara falou: nóis qué 300 (mil reais).
Na gravação, o traficante diz que depois de seis horas de negociação, conseguiu um bom desconto no valor da propina.
Jogador: Ele tinha pedido 300 conto, quando deu seis horas ele falou: ideia final, mano, 130 conto (mil reais). Nóis qué 100 (mil) agora e 30 (mil) daqui a 20 dias, certo? Aí foi quando o ‘gordão’ trocou uma ideia com você e vocês liberou 100 (mil) real.
O Ministério Público enviou ontem (14) à Secretaria de Segurança de São Paulo, dois volumes com provas. Um trata das relações dos bandidos com policiais civis. No outro estão os detalhes de como policiais militares se comunicavam com a quadrilha.
O Gaeco, Grupo de Atuação Especial e Repressão, informou que a partir de hoje a secretaria deve começar a analisar os documentos para identificar e punir policiais corruptos. Hoje, foi preso o primeiro tenente da PM, Guilherme William Pacheco da Silva, de 36 anos. Ele está no 16º Batalhão da Polícia Militar Metropolitana. A prisão, segundo nota, foi por suspeita de associação e envolvimento com o crime organizado, conforme divulgado pela imprensa através de escutas telefônicas.