Isaac
dos Anjos, governador da província de Benguela, juntamente com Boavida
Neto, governador da província do Bié, dois governantes não “yes man” inteligentes e competentes, constituem as últimas quotas visíveis dos umbundus no M.P.L.A.
Marcolino
Moco, queimou a quota dos umbundus. Faustino Muteka, queimou a quota
dos umbundus. Albino Malungo, queimou a quota dos umbundus. Todos eles
barbaramente utilizados pelo o M.P.L.A.
E, agora querem queimar Isaac dos Anjos, uma parte significativa da quota dos umbundus no M.P.L.A. e no governo.
Os
sulanos, cada vez mais, sem espaço e sem líder no M.P.L.A. Com a
U.N.I.T.A, partido do centro e sul de Angola “contrapeso”, até então,
fora do jogo, tudo tem ficado mais fácil para o M.P.L.A e seu governo.
Por enquanto, o M.P.L.A não precisa mais dos umbundus, ou seja, até a
U.N.I.T.A ou um outro partido, juntos, permanecerem adormecidos.
Isaac dos Anjos,
governador da província de Benguela é um combatente romântico, emotivo e
acossado, comportando-se como um soldado disposto a lutar até à última
bala.
Desta vez, inextremis, rompeu o cerco. De um lado está José Eduardo dos Santos, presidente da República de Angola e de outro ou contra, estão Bornito de Sousa, Ministro da Administração e Território, Carlos Feijó e tantos mais. As sociedades secretas que mandam nesta Angola.
O
poder político mudou de mãos e, com essa mudança, veio a perspectiva
completamente diferente de lidar com os problemas. Antes, por mais negro
que fossem os números, havia sempre uma explicação a dar à volta aos
piores cenários, com todo um governo a agir como numa espécie de
irmandade sempre em festa, desmultiplicando-se em eventos encenados com o
rigor e o fausto próprio de quem não tem de olhar as contas. A
população percebeu que o teatro conduziu o país para o precipício, por
isso, quer e sente necessidade urgente de mudar os protagonistas. Agora
temos justamente o contrário.
Na
actual conjuntura liderada pelo partido da situação, ninguém desperdiça
a oportunidade para nos lembrar que vivemos um calvário sem fim à
vista. Mas, repetem com uma insistência que, às vezes, sugere laivos de
sadismo, de que isto ainda vai ficar pior, como se o inferno sobre forma
de catástrofe, perda de casas, desemprego, falta de saúde e educação,
não fosse já tragédia bastante na vida de milhares de angolanos de
Angola. É óbvio que dizer a verdade é sempre a melhor opção, mas limitar
a acção governativa a imposição de querelas, intrigas entre ou de Bornito de Sousa para com Isaac dos Anjos tendo como base na arrogância e emoção de Isaac dos Anjos e
na velha problemática de terrenos e suas consequências, podem ser tão
desastrosas quanto infantilizar o exercício da governação. No tempo de Virgílio de Fontes Pereira “Gigi” para com Dumilde Rangel, Bornito de Sousa para com Armando da Cruz Neto e agora Isaac dos Anjos. Todos eles ministros da Administração e Território, na protecção de Amaro Segunda,administrador do município do Lobito, segundo ele, portador da fotocopia do bilhete de identidade de José Eduardo dos Santos, presidente da República de Angola para legalização de terrenos a favor do presidente. Por indicação ou não de José Eduardo dos Santos, o certo é que Amaro Segunda dizia abusivamente e a sete ventos que enquanto tiver a protecção de todos os Santos, todos os governadores por ele passarão.
Em
última analise, as duas atitudes, aparentemente antagónicas, podem
mesmo convergir, na medida em que desencadeiam mecanismos idênticos de
paralisia social. Quando, no tempo de Dumilde Rangel, o poder se
empenhava na ilusão de uma prosperidade inesgotável, acabava por matar
qualquer veleidade de mudança por parte dos cidadãos. É preciso mudar,
porque está tudo mal e, nesta altura, já é imperiosa a exoneração no
Lobito, de Amaro Segunda. Da mesma forma, a insistência obsessiva dos sucessivos governadores de Benguela, na exoneração de Amaro Segunda e no sacrifício ajudam à depressão e ao desalento.
Este clima negativo e deprimente, já está a contaminar o próprio governo local.
Perdeu-se
o ímpecto inicial à medida que o governo central, mais concretamente a
Administração Territorial, vai trocando as regras de jogo, sempre para
cada vez mais embaraçar o exercício do governo local. Isaac dos Anjos está
de mãos e braços atados. Não lhe permitem ter poder sobre os seus
subordinados, assim como, todos eles estabelecem ligações paralelas com
os chefes dos ministérios. Vergonhoso! Muito se sabe sobre o que andam
os ministros a fazer, mas a intriga palaciana já tratou de arranjar um
bobe expiatório –Isaac Maria dos Anjos, o titular do governo de Benguela. Mais do que apontar as debilidades de um governador, o fogo sobre Isaac dos Anjos é
revelador do estado de alma de um governo que parece perdido na trama
total por ele próprio criada. A manutenção no município do Lobito, de Amaro Segunda, defendida por Bornito de Sousa (assim como
de outros administradores municipais) mesmo depois de ser acusado de
responsável potencial pela tragédia que vitimou mais de 90 cidadãos,
vários desaparecidos e centenas de desalojados, adquiriu vida própria,
como se fosse um fim em si mesma e não numa simples etapa de um processo
que até podia ter um final feliz.
Francisco Rasgado
Jornal ChelaPress