Foto: Google Eath | Imagem de satélite do
Riacho Carnaíba. Nota-se os bancos de areia no Riacho e, praticamente, a
inexistência de mata ciliar
Araci apresenta clima tropical
semi-árido, o que é comum em todo o sertão nordestino. As chuvas são
fonte de preocupação na região desde períodos históricos e tornam-se
mais frequentes recentemente em função de fenômenos de mudanças
climáticas. Em termos gerais, os índices variam de 2.000 mm até valores
inferiores a 500 mm anuais. A precipitação média anual é inferior a
1.000 mm. O período chuvoso, normalmente, dura apenas dois meses no ano,
podendo, eventualmente, até não existir. Esses fenômenos causam as tão
afamadas “secas sertanejas”. Recentemente, muitas chuvas são torrenciais
(fortes) e em eventos específicos. Os resultados são: lamaçais, erosão
de solos, derrubada de árvores, entupimento de riachos e etc. A seca,
por si, justifica a presença de um açude como o Poço Grande em nossa
região. A água é e sempre será um bem necessário na região. Por isso, o
Poço Grande que fica localizado na zona rural de Araci foi inaugurado em
14 de junho 1966, através de uma iniciativa do Governo Federal, por
meio do Departamento Nacional de Obras Contra as Secas – DNOCS, com
capacidade de armazenamento de 65.000.000 m³ de água.
Para além de fomentar o crescimento
econômico regional, através da pesca artesanal ou da piscicultura; o
açude também é o principal ponto turístico da cidade, fornece água para
comunidades ribeirinhas próximas e agrega na precipitação local. É todo
um incremento econômico e ambiental que o açude acarreta, ademais de ser
a base de sobrevivência de dezenas de famílias locais. Todavia, ao
observar o reservatório através de imagens de satélite e programas de
geoprocessamento, o resultado é, definitivamente, preocupante.
Observa-se a necessidade de que sejam implantadas medidas paliativas
iniciais e instauradas ações concretas de manejo e reabilitação da bacia
do Poço Grande. O contexto histórico das chuvas locais e a realidade
que se desenha também são desoladoras. Os principais afluentes que
desaguam e alimentam o açude são o Riacho Carnaíba e Pau-a-pique. O
açude, por si, morre não fossem eles. O poço grande que vemos é apenas
uma área baixa onde foi implantado um barramento de água na década de
1960. Nota-se uma equação simples: riachos + áreas baixas + barramento
de água = açude. Esses riachos são calhas de drenagem intermitentes, ou
seja, não apresentam lâminas d’água em todos os períodos do ano. Esse
tipo de corpo hídrico alimentando açudes é muito comum no semi-árido por
diversos fatores técnicos. No entanto, um aspecto fundamental deve ser
observado e monitorado para que esses riachos não morram: a mata
ciliar. A mata ciliar é toda ou qualquer área vegetada existente no
entorno, ou seja, nas laterais dos rios, ou riachos. São áreas
protegidas por leis específicas de preservação ambiental. Mas nem sempre
isso é cumprido. O não cumprimento é sempre resultado de desmatamentos
para agricultura e a falta de iniciativas de gestão ambiental municipal,
do próprio DNOCS e do estado. Grande parte das vezes, o erro é
resultado da desinformação e de ineficiência institucional, não de quem
desmata. O resultado do desmatamento dessas matas é o assoreamento das
calhas de drenagem. Essas calhas são os locais onde a água passa, que
são sempre mais profundos que o solo da área vegetada. Sem vegetação nas
laterais, toda e qualquer chuva forte resulta em terra no talvergue do
riacho (parte profunda do meio). Recordando que a região apresenta,
comumente, chuvas torrenciais (fortes), é possível calcular,
tecnicamente, a dimensão do problema. Em termos de comparação, a falta
dessa mata resulta no mesmo problema de andarmos meio a um temporal com
os olhos abertos e cílios (dos olhos) cortados. O resultado,
logicamente, é terra nos olhos e eventual futura cegueira.
Portanto, antes que tenhamos que
lamentar a futura a provável “cegueira” do açude do Poço Grande, é
necessário que, urgentemente, as autoridades políticas e administrativas
de Araci atenham-se a este problema e implantem um plano de gestão
eficiente para o mesmo. Deve-se acionar os órgãos competentes INEMA
(Instituto do Meio Ambiente e Recursos Hídricos) e o DNOCS,
principalmente, e iniciar ações práticas de Educação Ambiental na
região. Esse é o paliativo. O efetivo será resultado de uma secretaria
de meio ambiente (ou semelhante) atuante com uma frente que intercale:
fiscalização, articulação política, educação e manejo. A competência no
sentido de resolução é e deverá ser compartilhada entre todos para que
dezenas de família não tenham que abandonar suas casas por falta d’água e
fonte de renda, assim como para que os investimentos em piscicultura e
turismo de 2013 não sejam perdidos. Desloque-se ao Poço Grande e note o
quão baixo está o nível do açude, sinta a água e veja a concentração de
sais. Percorra seu entorno e os riachos e constate as análises aqui
apresentadas.
Fonte: A Voz do Campo