terça-feira, 17 de março de 2015

Araci: O Poço Grande pode acabar

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Foto: Google Eath | Imagem de satélite do Riacho Carnaíba. Nota-se os bancos de areia no Riacho e, praticamente, a inexistência de mata ciliar
Araci apresenta clima tropical semi-árido, o que é comum em todo o sertão nordestino. As chuvas são fonte de preocupação na região desde períodos históricos e tornam-se mais frequentes recentemente em função de fenômenos de mudanças climáticas. Em termos gerais, os índices variam de 2.000 mm até valores inferiores a 500 mm anuais. A precipitação média anual é inferior a 1.000 mm. O período chuvoso, normalmente, dura apenas dois meses no ano, podendo, eventualmente, até não existir. Esses fenômenos causam as tão afamadas “secas sertanejas”. Recentemente, muitas chuvas são torrenciais (fortes) e em eventos específicos. Os resultados são: lamaçais, erosão de solos, derrubada de árvores, entupimento de riachos e etc. A seca, por si, justifica a presença de um açude como o Poço Grande em nossa região. A água é e sempre será um bem necessário na região. Por isso, o Poço Grande que fica localizado na zona rural de Araci foi inaugurado em 14 de junho 1966, através de uma iniciativa do Governo Federal, por meio do Departamento Nacional de Obras Contra as Secas – DNOCS, com capacidade de armazenamento de 65.000.000 m³ de água.
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Para além de fomentar o crescimento econômico regional, através da pesca artesanal ou da piscicultura; o açude também é o principal ponto turístico da cidade, fornece água para comunidades ribeirinhas próximas e agrega na precipitação local. É todo um incremento econômico e ambiental que o açude acarreta, ademais de ser a base de sobrevivência de dezenas de famílias locais. Todavia, ao observar o reservatório através de imagens de satélite e programas de geoprocessamento, o resultado é, definitivamente, preocupante. Observa-se a necessidade de que sejam implantadas medidas paliativas iniciais e instauradas ações concretas de manejo e reabilitação da bacia do Poço Grande. O contexto histórico das chuvas locais e a realidade que se desenha também são desoladoras. Os principais afluentes que desaguam e alimentam o açude são o Riacho Carnaíba e Pau-a-pique. O açude, por si, morre não fossem eles. O poço grande que vemos é apenas uma área baixa onde foi implantado um barramento de água na década de 1960. Nota-se uma equação simples: riachos + áreas baixas + barramento de água = açude. Esses riachos são calhas de drenagem intermitentes, ou seja, não apresentam lâminas d’água em todos os períodos do ano. Esse tipo de corpo hídrico alimentando açudes é muito comum no semi-árido por diversos fatores técnicos. No entanto, um aspecto fundamental deve ser observado e monitorado para que esses riachos não morram: a mata ciliar. A mata ciliar é toda ou qualquer área vegetada existente no entorno, ou seja, nas laterais dos rios, ou riachos. São áreas protegidas por leis específicas de preservação ambiental. Mas nem sempre isso é cumprido. O não cumprimento é sempre resultado de desmatamentos para agricultura e a falta de iniciativas de gestão ambiental municipal, do próprio DNOCS e do estado. Grande parte das vezes, o erro é resultado da desinformação e de ineficiência institucional, não de quem desmata. O resultado do desmatamento dessas matas é o assoreamento das calhas de drenagem. Essas calhas são os locais onde a água passa, que são sempre mais profundos que o solo da área vegetada. Sem vegetação nas laterais, toda e qualquer chuva forte resulta em terra no talvergue do riacho (parte profunda do meio). Recordando que a região apresenta, comumente, chuvas torrenciais (fortes), é possível calcular, tecnicamente, a dimensão do problema. Em termos de comparação, a falta dessa mata resulta no mesmo problema de andarmos meio a um temporal com os olhos abertos e cílios (dos olhos) cortados. O resultado, logicamente, é terra nos olhos e eventual futura cegueira.
Foto: Blog Zona Rural Informa
Portanto, antes que tenhamos que lamentar a futura a provável “cegueira” do açude do Poço Grande, é necessário que, urgentemente, as autoridades políticas e administrativas de Araci atenham-se a este problema e implantem um plano de gestão eficiente para o mesmo. Deve-se acionar os órgãos competentes INEMA (Instituto do Meio Ambiente e Recursos Hídricos) e o DNOCS, principalmente, e iniciar ações práticas de Educação Ambiental na região. Esse é o paliativo. O efetivo será resultado de uma secretaria de meio ambiente (ou semelhante) atuante com uma frente que intercale: fiscalização, articulação política, educação e manejo. A competência no sentido de resolução é e deverá ser compartilhada entre todos para que dezenas de família não tenham que abandonar suas casas por falta d’água e fonte de renda, assim como para que os investimentos em piscicultura e turismo de 2013 não sejam perdidos. Desloque-se ao Poço Grande e note o quão baixo está o nível do açude, sinta a água e veja a concentração de sais. Percorra seu entorno e os riachos e constate as análises aqui apresentadas.
Fonte: A Voz do Campo