Bélgica: produtores de leite protestam contra a política
agrícola do governo
Dificuldades no setor têm sido causadas pela
submissão do governo às medidas de arrocho da União Europeia e severa
redução no poder aquisitivo da maioria da população
Centenas de criadores de gado e agricultores belgas bloquearam com seus
tratores as estradas e ruas de Liège e de outras cidades no leste do país,
em repúdio à forte queda dos preços do leite e outros produtos lácteos. A
confusão foi ainda maior quando os manifestantes espalharam vacas,
carneiros, ovelhas e outros animais pelas ruas.
Embora o protesto tenha repudiado o conjunto da política agrícola do governo
da Bélgica, submetido às medidas de arrocho da União Europeia, concentrou-se
no setor, na véspera de uma reunião com representantes dos governos da
França, Espanha, Holanda e Portugal sobre a crise da produção leiteira, na
sexta-feira, 21, em Bruxelas.
A queda nos preços foi facilitada pelas condições de liberalização aduaneira
e pela submissão do governo que atendeu às sanções contra a Rússia
desencadeadas pelo governo dos EUA que foram respondidas com a suspensão de
compras de produtos agrícolas pelo governo de Vladimir Putin. A severa
redução da capacidade aquisitiva da grande maioria da população trouxe ainda
perdas significativas para os produtores, principalmente os pequenos e
médios, vítimas das corporações que definem os preços.
Victor Thines, do Grupo de Interesse de produtores de Leite (MIG), afirmou
que com esse protesto manifestaram seu rechaço à política antinacional do
governo que prefere entregar os recursos para o setor financeiro, espremendo
a produção agrícola.
Essa ação faz parte também da preparação do protesto que se realizará
durante a reunião extraordinária de ministros de Agricultura da União
Europeia, prevista para o próximo 7 de setembro. A Junta Europeia do Leite (EMB)
pressiona para que nesse encontro se tomem medidas para uma solução a longo
prazo deste problema.
“A baixa dos preços da carne e do leite está levando dezenas de pequenas e
médias fazendas à falência”, assinalou Thines.
Com a produção encalhada, os preços que em diversas ocasiões não cobrem os
custos e o aumento do desemprego no campo tem levantado os agricultores. Nas
últimas semanas o protesto se estendeu por diversas regiões e países com
bloqueio de estradas com tratores ou queima de pneus. Supermercados das
principais redes e fábricas processadoras de alimentos foram bloqueados por
montanhas de lixo trazidas pelos manifestantes.
Na França, no mês de julho, os agricultores e criadores também se rebelaram
contra a baixa dos preços da carne e do leite que estão levando dezenas de
pequenas e médias fazendas à falência. O próprio ministério da Agricultura
francês reconheceu que já há 10% (22.000 fazendas) à beira da falência com
uma dívida conjunta de 1 bilhão de euros.
SUSANA SANTOS