A dona da empresa que recebeu R$ 1,6
milhão da campanha de Dilma Rousseff no ano passado disse nesta
quarta-feira que não viu todo esse dinheiro e que só ficou com cerca de
R$ 2 mil por mês para montar cavaletes de madeira da então candidata e
de outros políticos. Ângela Maria do Nascimento, de 60 anos, vive de
aluguel na periferia de Sorocaba, no interior de São Paulo, e faz bicos
para completar a renda. O ministro Gilmar Mendes, do Tribunal Superior
Eleitoral (TSE), pediu para o Ministério Público de São Paulo investigar
se a empresa prestou realmente os serviços para os quais foi
contratada.
Ângela trabalha há mais de 20 anos para a
família de Juliana Cecília Dini Morello. Junto com o marido, Juliana é
dona da empresa Embalac Indústria e Comércio Ltda., que recebeu cerca de
R$ 330 mil de políticos no ano passado para fazer material de campanha.
Ângela disse que a patroa recomendou que ela abrisse uma empresa para
também trabalhar na campanha e aumentar seus rendimentos. O TSE suspeita
que Juliana fez isso, na verdade, para dividir clientes com a empresa
que seria criada por Ângela e, assim, pagar menos impostos.
As duas empresas declararam o mesmo
endereço à Junta Comercial. Ângela disse que seu trabalho era grampear
banners de plástico com fotos de candidatos em cavaletes de madeira e
que o serviço era feito no galpão da Embalac, onde também trabalhavam
dezenas de outras pessoas. A meta diária girava entre 2 mil e 4 mil
cavaletes.
– Fui eu e um monte de gente. Tenho a
lista. A gente montava dois mil cavaletes por dia, trabalhava de segunda
a segunda. Era pegar o plástico e grampear na madeira do cavalete. Aí
no fim do dia um caminhão pegava e levava tudo – disse Ângela.
Juliana não foi localizada para comentar
o assunto. Sua empresa enviou uma nota em que diz que a Embalac e a
empresa de Ângela trabalharam “em parceria durante o período eleitoral
de 2014 para algumas campanhas eleitorais, sendo que todos os serviços
foram prestados e todo material entregue”
O contador Carlos Carmelo Antunes,
responsável pela abertura da empresa de Ângela, disse que tem todas as
notas da Embalac e de Ângela para comprovar as prestações de serviços
para as campanhas políticas. O problema, segundo ele, é que o serviço de
montagem de cavaletes foi, de fato, prestado pela empresa de Ângela,
enquanto os materiais utilizados nesse serviço tenham sido comprados com
notas emitidas pela Embalac.
– Houve um erro, fizeram uma operação
errada usando notas de duas empresas. Não podemos registrar uma compra
feita por uma empresa em outra empresa. Mas como há uma fiscalização em
curso, vou esperar terminar a fiscalização para saber qual é o imposto
devido e que providências devemos tomar.
Além da campanha de Dilma, a empresa de
Ângela recebeu de Lindbergh Farias (PT-RJ), Candido Vaccarezza (PT-SP),
Alencar Braga (PT-SP), Janete Pietá (PT-SP), Devanir Ribeiro (PT-SP),
João Paulo Rilo (PT-SP) e Vitor Lippi (PSDB-SP).
Já a Embalac foi contratada por Alexandre Padinha (PT-SP), Paulo Teixeira (PT-SP) e Vicente Cândido (PT-SP), além de Dilma.
O Globo