sexta-feira, 14 de agosto de 2015

ANGOLA É O ÚNICO PAÍS QUE GANHA A COMPRAR E NÃO A VENDER


A pátria angolana corre perigo, é urgente dar voz ao sentimento de revolta dos angolanos que vão lutar pela possibilidade de escolher seus governantes, a apresentação de listas nominais de cidadãos nas eleições autárquicas que o partido no poder muito teme. Teme, pois, sabe que vai perder nas cidades mais importantes, nomeadamente Luanda e Benguela, Lobito e Huambo. Por conseguinte, recusa-se peremptoriamente a marcar uma data definitiva para a realização das mesmas.

José Eduardo dos Santos esquece uma coisa primordial: num momento como este, para lá do que faça no silêncio dos gabinetes, o presidente não pode estar ou parecer ausente – tem de ser a voz dos que não têm voz, ou que tendo voz o governo não ouve; tem de ser um visível símbolo da unidade e da Independência Nacional, de algum modo ameaçadas, e um factor de esperança para os angolanos de Angola, cada vez mais sem ela e sem perspectivas de futuro. E é de clareza meridiana que não o está a ser. Por isso, dado o papel decisivo do presidente da República, em particular nos momentos mais difíceis, só posso desejar que passe a intervir de forma diferente  e a representar para todos os angolanos de Angola o que neste momento não representa.

O poder, pode. Mas não deve. E, como se ouve nas ruas e confirmada pelas sondagens, estão à vista os resultados, com o consequente prejuízo para ele e para o País.

Pode um presidente da República, num momento de crise muito grave e de uma generalizadíssima insatisfação, desesperança e indignação dos angolanos de Angola face à situação que vivem a quem os governa, estar demissionário, ausente e insensível? E, em muitos casos, as próprias instituições do Estado limitarem-se a desempenhar as suas altas funções exercendo intrigas e influências no segredo dos gabinetes, em encontros com altas personagens do partido da situação, membros do executivo e dos vários poderes, nos bastidores - acrescentando-lhes declarações públicas informais e ocasionais? Ninguém fala verdade! No partido da situação e no governo todos mentem! O país bateu no fundo do poço.

Os angolanos de Angola estão num processo de mudança de mentalidade. O limbo está a desaparecer e a violência da situação a promover talvez num novo modo de expansão das suas forças.

É notório e visível a olho nu a desorientação, a confusão a sideração dos angolanos de Angola.

Abandonaram o queixume e aprenderam a protestar.

Daí as manifestações constantes. Desinvestiram em símbolos políticos, palavras de ordem cada vez menos codificadas. Basta estarem lá, afirmando-se pela pura presença contra quem os anula e quer fazer desaparecer. Forças desinvestidas pacíficas, soltas, não codificadas e não canalizadas por ideologias e partidos. Anular uma manifestação é impedir a sua realização no real. A não realização forçada de acção que visa precisamente inscrever-se viola violentamente a democracia.

Como se sabe, um dos meios que o governo do M.P.L.A adoptou para desencorajar e reduzir a zero as manifestações, no entender deles, hostis, é raptar e fazer desaparecer, matar a sangue frio os manifestantes mais aguerridos. Fazer como se nada tivesse acontecido é fazer acontecer. É o que o governo tem vindo a fazer através das suas polícias e seus bufos (ambiente completamente infestado), com as sucessivas manifestações.

Mas já não é possível fazer parar. Cada vez mais, os seus cálculos estão a sair errados.

Da violência sofrida brota, em geral, violência. Quem poderá garantir que destas forças soltas a violência nua não jorrará?


Jornal ChelaPress