Termina hoje prazo para que municípios acabem com lixões
Termina
neste sábado (2) o prazo de quatro anos para as cidades brasileiras
adequarem sua gestão do lixo às regras da Política Nacional de Resíduos
Sólidos (PNRS). Sancionada em 2 de agosto de 2010, ela determina ações
como a extinção dos lixões do país, além da implantação da reciclagem,
reuso, compostagem, tratamento do lixo e coleta seletiva nos municípios.
Pela
lei, a partir deste domingo (3), as prefeituras com lixo a céu aberto
podem responder por crime ambiental, com aplicação de multas de até R$
50 milhões, além do risco de não receberem mais verbas do governo
federal. Os prefeitos, por sua vez, correm o risco de perder o mandato.
Em tese,
se a legislação for cumprida à risca, muitas cidades podem ser punidas.
Segundo o Ministério do Meio Ambiente, somente 2.202 municípios, de um
total de 5.570, estabeleceram medidas para garantir a destinação
adequada do lixo que não pode ser reciclado ou usado em compostagem.
Mesmo sabendo que 60% dos municípios
não cumprem a lei, o governo não pedirá prorrogação de prazo para que o
programa passe a vigorar. André Vilhena, diretor da associação
Compromisso Empresarial para Reciclagem (Cempre), afirma que o Brasil já
venceu a fase de, na véspera, precisar esticar prazos por não haver
cumprimento de metas.
Plano Nacional de Resíduos Sólidos PNRS
Segundo
ele, há a possibilidade de prorrogação por meio de acordos firmados
entre os municípios e o Ministério Público. “O prazo se encerra, mas
quem não cumprir pode fazer a prorrogação por meio de um Termo de Ajuste
de Conduta (TAC)”, explica. Ele disse ainda que isto ajuda a analisar a
particularidade de cada município. A maioria enfrenta problemas de
falta de verba.
Principais objetivos
A
PNRS tem como prioridades a redução do volume de resíduos gerados, a
ampliação da reciclagem, aliada a mecanismos de coleta seletiva com
inclusão social de catadores e a extinção dos lixões. Além disso, prevê a
implantação de aterros sanitários que receberão apenas dejetos, aquilo
que, em última instância, não pode ser aproveitado.
Esses
aterros, por sua vez, deverão ser forrados com manta impermeável para
evitar a contaminação do solo. O chorume, líquido liberado pela
decomposição do lixo, deverá ser tratado. O gás metano que resulta da
decomposição do lixo, que pode explodir, terá que ser queimado.
De
acordo com o Ministério do Meio Ambiente, os instrumentos da PNRS
ajudarão o país a reciclar 20% dos resíduos já em 2015. Dados do Sistema
Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS), referentes a 2012 e
que são os mais recentes, apontam que só 3,1% do lixo gerado no país
naquele ano foi destinado à coleta seletiva e que 1,5% dos resíduos
domiciliares e públicos foram recuperados.
Lavar lixo reciclável.
Naquele
ano, o Brasil gerou 62,7 milhões de toneladas de resíduos sólidos e
coletou 57,9 milhões de toneladas deste total. Segundo a Associação
Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais, a
Abrelpe, 42% do montante coletado teve destinação inadequada e em 3.352
cidades os detritos foram encaminhados para lixões ou aterros
controlados – que, para especialistas, são apenas lixões melhorados.
Incapacidade técnica
Geraldo
Antônio Reichert, coordenador da Câmara temático de Resíduos Sólidos da
Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental (Abes),
afirma que a maioria das cidades com problemas na gestão dos resíduos
sólidos não cumpriram o prazo a tempo por não terem dinheiro em caixa e
não conseguirem financiamento do governo federal.
O
presidente da Abrelpe, Carlos Silva Filho, disse que os altos índices
de destinação irregular poderiam ter caído se os municípios tivessem
utilizado instrumentos disponíveis na Lei de Saneamento Básico, que
incluem verbas do governo federal para obras. Mas, segundo ele, faltou
capacidade técnica às prefeituras para montar projetos adequados às
regras da União.
De
acordo com o Ministério do Meio Ambiente, nos últimos quatro anos foram
disponibilizados R$ 1,2 bilhão para que estados e municípios
realizassem o planejamento das ações e iniciassem medidas para se
adequarem à nova legislação de resíduos sólidos. Mas apenas 50% do
montante foi efetivamente aplicado.
“São
situações de incapacidade técnica de municípios, incapacidade de acessar
recursos. Tem situações, inclusive, que podem ser resolvidas entendendo
melhor a integração dos planos municipais”, declarou a ministra
Izabella Teixeira, na última quinta-feira (31).