A
história de Laudécio Carneiro da Silva poderia ter tomado outros rumos
se não fosse a sua persistência, sua luta e a confiança em seus sonhos.
Tudo começa com a infância vivida na comunidade de Lagoa Grande no
município de Retirolândia localizado no território do Sisal.
Essa região foi por muito tempo
conhecida como Região Sisaleira da Bahia, nomenclatura dada pelo grande
cultivo do sisal, planta característica daquela localidade e que
movimentava a economia e fazia parte do dia a dia de homens, mulheres,
crianças e adolescentes. Também chamada de Agave Sisalana, o sisal é uma
planta originária do México e bem adaptável ao sol e as climas secos e
áridos. O cultivo dessa planta foi difundido no Brasil inicialmente no
estado da Paraíba e a partir da década de 30 na Bahia. Foi na região do
Sertão da Bahia que essa planta obteve o seu melhor rendimento e assim
tornou-se um elemento característico da economia, cultura e do
desenvolvimento local.
O contexto do Sisal- O
beneficiamento do Sisal é destinado na sua maioria à produção da fibra e
à indústria de cordoaria, na fabricação de cordas, tapetes e outros
utensílios. A fibra do sisal é considerada a fibra mais dura que existe e
já é utilizada em substituição a fibra de vidro, inclusive na
fabricação de automóveis. Além da fabricação da fibra, a matéria-prima
do sisal também é muito utilizada para a produção de bebidas, celulose,
remédios, biofertilizantes, ração animal e adubos orgânicos. O
Território do Sisal compreende 20 municípios da Bahia, sendo eles:
Araci, Barrocas, Biritinga, Candeal, Cansanção, Conceição do Coité,
Ichu, Itiúba, Lamarão, Monte Santo, Nordestina, Queimadas, Quijingue,
Retirolândia, Santaluz, São Domingos, Serrinha, Teofilândia,Tucano e
Valente.
O município de Retirolândia faz parte
desse território e a sua história e de seus 12.000 habitantes também se
cruzam com a realidade e o contexto do sisal, assim como a história do
jovem Laudécio Carneiro.
Desde de muito cedo ele conheceu o
trabalho na lavoura do sisal. Ainda criança trabalhava no cultivo da
planta e também e nos afazeres da roça. A sua realidade não era muito
diferente de outras crianças e adolescentes da sua comunidade e do seu
município. Em meados dos anos 90 e 2000 muitas crianças e adolescentes
protagonizavam cenas frequentes do trabalho infantil, tanto nas lavouras
do sisal, como em pedreiras, carvoarias, feiras-livres e em outras
atividades que prejudicavam o seu desenvolvimento físico e também
intelectual.
Nesse período, Laudécio frenquentava a
escola em um turno e no outro turno trabalhava. Morando com os avós ele
nunca foi obrigado a trabalhar, mas via no trabalho um meio para
aquisição de bens materiais, como produtos de beleza, objetos pessoais
e algumas necessidades como lazer. Produtos esses que seus avós não
tinham condições financeiras de lhe oferecer e o trabalho era o único
meio de obter.