sexta-feira, 6 de fevereiro de 2015

Fundações: Estado vai avaliar abertura de contas da Saúde para fechar acordo com o MPF

A intransigência dos procuradores do Estado de Sergipe, endossada pelo secretário de Estado de Saúde, José Sobral, deixou a maioria dos trabalhadores da Fundação Hospitalar de Saúde frustrados no desfecho da longa audiência de conciliação, realizada na manhã desta sexta-feira, dia 30/01, no auditório do Ministério Público Federal, em Aracaju.
reuniaoOs representantes do Governo do Estado não aceitaram a proposta do procurador Ramiro Rockenbach do Ministério Público Federal de permitir o acesso a informações sobre toda e qualquer movimentação de verba da saúde repassada pelo Governo Federal ao Governo de Sergipe. A negativa fez com que a questão ficasse em aberto, e num prazo de 15 dias, o Ministério da Saúde e o Governo de Sergipe ainda podem aceitar em comum acordo a proposta de abertura das contas.
Numa postura inversa, o representante do Ministério Público Federal fez importantes concessões para firmar um acordo com o Governo do Estado de Sergipe. Aceitou a proposta de prorrogar o contrato dos trabalhadores vencido por mais um ano, ao longo do qual uma solução para o impasse será construída por um Grupo de Trabalho formado por representantes do Conselho Estadual de Saúde, do Governo do Estado de Sergipe, dos Sindicatos de Trabalhadores da Fundação Hospitalar e do Ministério Público Federal. Cinco meses após a criação do GT, uma nova audiência vai avaliar o que já foi feito.
sindicalistasA tarefa do Grupo de Trabalho ao qual o procurador batizou de GT Saúde Mais 10 Sergipe é solucionar todos os problemas no serviço de prestação de assistência à saúde da população sergipana. O juiz Edmilson Pimenta, presidente da audiência, esclareceu que não é objetivo do MPF acabar com a saúde no Estado de Sergipe, mas encontrar uma solução na gestão dos recursos de saúde que atenda à demanda. Além de condições dignas de trabalho, o juiz cobrou uma solução definitiva para as várias ações judiciais que denunciam todas as semanas falta de lençóis, de maca e de todo tipo de material nos hospitais.
O procurador Ramiro Rockenbach recorda que a Fundação Hospitalar de Saúde foi criada com a proposta de resolver todas as dificuldades, mas até o presente nada disso aconteceu, e enfatizou que saúde pública não é algo que possa ser delegado a terceiros, é função do Estado geri-la.
trabalhadores“O que está em discussão, após 5 anos de FHS é um modelo que já foi posto em prática, e que gera incertezas sobre o controle de recursos federais. O MPF defende que o Estado reassuma o serviço de prestação de assistência à saúde e que cumpra as medidas que lhe cabem. O modelo de FHS gerou insegurança no serviço de assistência a saúde e precarização das relações de trabalho. Precisamos de mais recursos e de um corpo profissional com estabilidade e trabalhadores valorizados. De que forma poderemos aproveitar todos os 7 mil trabalhadores da FHS? Ainda não sabemos, por isso precisamos de tempo para realizar esta transição, com base no estudo de tudo que foi feito para identificar todos os problemas e encontrar solução”.
A presidente do Sindicato dos Assistentes Sociais de Sergipe (SINDASSE), Rosely Anacleto, ficou desanimada e perplexa com a falta de disposição do Governo do Estado em resolver o problema da Fundação Hospitalar.
“Infelizmente o Governo não trouxe nenhuma proposta satisfatória para as várias categorias de trabalhadores. Ele queria renovar o contrato das Fundações por prazo indefinido. O Governo também tem se mostrou resistente quanto ao cumprimento da Lei de Transparência… Se as contas públicas são dotadas de total lisura, o secretario de Saúde, de pronto, deveria ter assumido este compromisso que é um dos requisitos impostos pelo MPF para o acordo proposto. Também percebemos por parte do Governo uma tentativa de tirar os trabalhadores da jogada. Por que já havia sido combinado com ele, na primeira reunião que tivemos na sala dele, que o movimento sindical participaria do Grupo de Trabalho construído. No entanto, eles trouxeram uma proposta limitando a participação dos trabalhadores no Grupo através da representação do Conselho Estadual de Saúde”.
Com a mediação do procurador Rockenbach, foi decidido que o Grupo de Trabalho teria participação de três representantes sindicais, contando com os que já integram o Conselho de Saúde. Mas a presidente do SINDASSE, filiado à Central Única dos Trabalhadores (CUT/SE), avaliou que o resultado da audiência não foi satisfatório para os trabalhadores.
“Nem o impasse sobre a pessoa jurídica da Fundação foi resolvido, nem fechamos o acordo completamente com o MPF, pois o Estado se negou a abrir as contas da saúde. Para o conjunto dos trabalhadores, a gente sai sem nada concreto nas mãos. Se este modelo de gestão é tão moderno, flexível, sintonizado com o mercado como dizem os procuradores do Estado e administradores da Fundação, por que eles não abrem as contas? Para mim será uma maravilha que a sociedade saiba quão baixo é o salário do trabalhador da saúde. Não temos problema nenhum de mostrarmos nossos contracheques. Quem não deve não teme”.
Além da má gestão da FHS que gerou uma dívida com fornecedores e passivo fiscal, a população não pode continuar tendo uma assistência de saúde precária, insatisfatória e cheia de problemas.
“O objetivo desta ação civil pública é colocar a saúde no eixo. Precisamos estudar todos os repasses e suas aplicações para verificar definitivamente se o problema é a falta de recursos. Se a questão for esta, teremos que buscar assessoria da União. Esta briga não é só do MPF, mas principalmente de todos os gestores de saúde pública do Brasil”, explicou o procurador Rockenbach.
Entre mais de 10 sindicatos de trabalhadores da saúde presentes na audiência, também acompanharam o debate os sindicatos filiados à Central Única dos Trabalhadores (CUT/SE) junto ao SINDASSE (Assistentes Sociais), SINPSI (Psicólogos), SINDCONAM/SE (Condutores de Ambulância) e SINDINUTRISE (Nutricionistas).