O filho de dois anos da funcionária pública Wanessa Campos, 32, foi deixado sozinho do lado de fora da creche onde estuda em São José do Rio Preto, no interior de São Paulo. “A hora da saída é 17hs e o pai de Arthur chegou às 17h05 e o encontrou na calçada”, conta Wanessa. A escola fica em uma grande avenida por onde passam ônibus e carros sempre em alta velocidade. “Podia ter acontecido uma tragédia porque não havia nenhum adulto cuidando do Arthur”, completa. O pai do menino entrou na escola Prof. Neide Egea Laguna e tentou tirar satisfações com funcionários, que não sabiam dizer o que tinha acontecido “e também não pareciam se importar”, completa a mãe.
Wanessa conta ainda que na reunião de “boas-vindas” a escola já havia avisado que não haveria tolerância no horário de buscar as crianças, o que causou um verdadeiro mal estar entre os pais que trabalham. “Eles afirmaram que se não estivéssemos lá às 17hs em ponto para buscar nossos filhos o conselho tutelar seria chamado”, afirma.
Inconformada, Wanessa foi à delegacia e fez um boletim de ocorrência. Tentamos um contato com a EEI Prof. Neide Egea Laguna e um funcionário afirmou não estar autorizado a se pronunciar. A Secretaria Municipal de Educação de São José do Rio Preto foi contactada por três vezes via assessoria de imprensa, mas não se manifestou até o fechamento deste post*.
Segundo a advogada Ana Lucia Keunecke, diretora jurídica da ONG Artemis, a escola cometeu o crime de abandono de incapaz, previsto no artigo 133 do código penal. “A responsabilidade é de quem tinha a guarda do menor no momento, ou seja, a escola”, explica.
Wanessa, que mudou da capital paulista para São José do Rio Preto em novembro depois do início da crise da água e para que o filho pudesse ficar mais perto do pai, já está de malas prontas para voltar a São Paulo. Arthur teve de ir para escola hoje, porque Wanessa precisa trabalhar e arrumar sua volta à cidade. “Estou com o coração apertado, mas vou buscá-lo mais cedo já que quero conversar com o diretor e oficializar a saída dele da escola”. Wanessa decidiu expor sua história mesmo decidindo tirar Arthur da Prof. Neide Egea Laguna porque as famílias que moram no bairro precisam muito de um lugar seguro onde deixar os filhos. “Sei que a creche é da prefeitura, e isso muitas vezes passa a impressão de que porque não pago um boleto mensal, não posso reivindicar nada”, afirma. “Mas eu tenho direito de reclamar sim e a prefeitura tem que olhar com carinho para essa escola e evitar que esse tipo de coisa aconteça novamente”, conclui.
*Às 15:45 desta sexta, 20/02/2015, a Secretaria Municipal de Educação de São José do Rio Preto enviou uma nota ao portal do Estadão, afirmando que “de acordo com a coordenação pedagógica da Escola Neide Egea Laguna, o aluno não se encontrava sozinho. O que ocorreu foi que o estudante, na hora da saída, passou pela funcionária e foi de encontro ao pai na escada de acesso ao portão da escola. O pai foi atendido pelos professores, funcionários e coordenadora, que lhes prestaram os esclarecimentos sobre o ocorrido”.