quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015

"12 mortos no Cabula": Polícia recua e diz que maioria não tem antecedentes



Foto: Arisson Marinho

Operação da Políca Militar é contestada por familiares e movimentos sociais.
Após afirmar que nove dos 12 mortos na ação policial na Estrada das Barreiras, no Cabula, tinham passagem pela polícia, a Polícia Civil da Bahia recuou e confirmou que apenas duas vítimas tinham antecedentes criminais. Outras quatro pessoas ficaram feridas na operação da Rondesp na última sexta-feira (7).


Evison Pereira dos Santos havia sido preso duas vezes, em 2010 e 2011, por envolvimento com brigas durante o Carnaval. O outro, um homem de 28 anos que está internado sob custódia no Hospital do Subúrbio já havia sido preso por tráfico em 2010. Ainda segundo a Polícia Civil, em 2011, ele voltou a ser conduzido para delegacia de Santo Amaro por posse de droga.


A troca de tiros aconteceu por volta das 4h, na localidade do Campinho, entre um grupo com cerca de 30 homens e uma guarnição da Polícia de Rondas Especiais (Rondesp Central). Segundo a Polícia Militar, a guarnição recebeu a informação de que um grupo planejava arrombar uma agência bancária na Estrada das Barreiras.


A PM encontrou um veículo abandonado durante uma ronda na área. Ao investigar a denúncia, os militares foram recebidos a tiros, e um sargento da Rondesp foi atingido de raspão na cabeça. A PM revidou e feriu 15 homens durante o confronto.


"Ação enérgica" O governador Rui Costa parabenizou a ação da PM durante coletiva de imprensa realizada na manhã de sexta. Segundo ele, é preciso que o policial, em poucos segundos, tenha "a frieza e a calma necessárias para tomar a decisão certa". "É como um artilheiro em frente ao gol que tenta decidir, em alguns segundos, como é que ele vai botar a bola dentro do gol, pra fazer o gol", comparou. "Depois que a jogada termina, se foi um golaço, todos os torcedores da arquibancada irão bater palmas e a cena vai ser repetida várias vezes na televisão. Se o gol for perdido, o artilheiro vai ser condenado, porque se tivesse chutado daquele jeito ou jogado daquele outro, a bola teria entrado", continuou.



Ainda de acordo com o governador, nenhum PM da Rondesp envolvido na ação da madrugada será afastado, já que não há "indícios que teve atuação fora da lei nesse caso". "Nós defendemos, assim como um bom artilheiro, acertar mais do que errar. E vocês terão sempre um governador disposto a não medir esforços, a defender desde o praça ao oficial, a todos que agirem com a energia necessária, mas dentro da lei", finalizou Rui Costa, que foi aplaudido por dezenas de policiais presentes na cerimônia.


A ação também foi elogiada por Maurício Barbosa, secretário de Segurança Pública do Estado da Bahia (SSP/BA). "A polícia deve agir com rigor, deve ser dura. Lógico, sem ser arbitrária. Mas atuando com firmeza", disse Barbosa. "Eu defendo muito a vida dos meus policiais, e isso para é o que importa: a vida dos policiais e a vida da sociedade, que está sofrendo com essas ações delituosas", lamentou.


Anistia Internacional A Anistia Internacional afirmou ainda na sexta-feira (6) que vê "indícios de execuções sumárias" na morte de 12 pessoas em um confronto entre policiais da Rondesp e criminosos na Estrada das Barreiras durante a madrugada. Pelo menos nove deles têm passagem policial, segundo a SSP.


Ainda segundo a Anistia, há relatos de testemunhas que contestam a versão da Polícia Militar de que o grupo foi surpreendido enquanto se preparavam para um assalto a banco e reagiu. Segundo a organização, várias são as denúncias de abordagens abusivas da Rondesp, em que ocorrem desaparecimentos e execuções, e pede "que as autoridades tomem as medidas necessárias para garantir a segurança imediata dos moradores e proteger testemunhas e os sobreviventes".