
Armin Nachawaty é sírio e muçulmano, mas mora no Rio de Janeiro e se sustenta trabalhando em uma paróquia católica.
Aos
24 anos, carrega na memória uma longa travessia para escapar da guerra
civil na Síria. Em sua cidade natal, Damasco, ele diz ter sido preso em
condições subhumanas por ter se negado a cumprir o serviço militar. Seu
pai decidiu então que ele e seu irmão, Ebraheem, 20, deveriam fugir para
longe."Minha família pôs muito dinheiro, quase tudo o que tinha, para pagar pelos nossos passaportes", conta Armin à BBC Mundo.
A primeira parada, no Líbano, foi "horrível", diz ele. Ali vivem cerca de 1,2 milhão de refugiados sírios, e os dois irmãos não conseguiram lugar para morar ou trabalhar. Ante a dificuldade em obter vistos para Europa, EUA ou Canadá, surgiu a ideia de emigrar ao Brasil. A viagem foi autorizada pela embaixada brasileira no Líbano.
Ambos chegaram sozinhos em solo brasileiro um ano atrás e, seis meses depois, se reuniram com os pais e o irmão menor, Youness, de 5 anos.
Hoje, a família é parte dos cerca de 1,7 mil sírios refugiados em território brasileiro, segundo dados divulgados na segunda-feira pelo Conare (Comitê Nacional para os Refugiados), vinculado ao Ministério da Justiça.
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Eles formam o maior contingente de refugiados do país, seguido de cidadãos de Angola e Colômbia.
No ano passado, o Brasil concedeu refúgio a 2.320 estrangeiros - número recorde -, e os sírios foram mais da metade deles.
Cidadãos sírios
O mexicano Andrés Ramírez, representante no Brasil do Alto Comissariado da ONU para Refugiados (Acnur), diz à BBC Mundo que o Brasil é o país que acolhe a "imensa maioria" dos sírios que buscam refúgio na América Latina.Uma das razões por trás disso é que o país reconhece imediatamente como refugiado qualquer pessoa que seja capaz de se identificar como cidadão sírio e solicite esse status.

"O Brasil adotou uma posição receptiva em relação aos sírios e também aos libaneses afetados pela crise no Oriente Médio", diz Paulo Abrão, secretário de Justiça. Essa aceitação, sem uma análise individual de cada caso, é atípica e foi adotada depois que organizações humanitárias reportaram obstáculos em embaixadas brasileiras para conceder vistos a sírios deslocados pela guerra.
Outro fato que atraiu muitos sírios é a grande comunidade sírio-libanesa e de descendentes de árabes, produto de ondas migratórias de fins do século 19 e começo do século 20.
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