
Entre os mortos no ataque estão Bernard Marris, Georges Wolinski, Jean Cabu, Stéphane Charbonnier, Bernard Verlhac (Tignous) e Philippe Honoré.
O
jornal francês "Le Monde" publicou nesta quinta-feira (8) uma
reportagem com base em depoimentos de sobreviventes sobre o passo a
passo da ação dos atiradores no ataque à redação do jornal "Charlie
Hebdo", em Paris. Ao todo 12 pessoas morreram no ataque: oito
funcionários do jornal – entre eles quatro cartunistas –, um funcionário
do edifício, um convidado da redação e dois policiais. O jornal
publicou ainda uma foto do corredor da redação com várias manchas de
sangue.
De acordo com a reportagem, os homens entraram primeiro em um prédio vizinho perguntando se ali era a sede do Charlie Hebdo. Desde os bombardeios de 2011 e após inúmeras ameaças de morte recebidas, a equipe do jornal mantém o endereço da redação em sigilo. Eles chegaram a pedir à vizinhança que não revelasse o local.
Veja a sequência dos acontecimentos, segundo o ´Le Monde´: – Pouco depois das 11h locais desta quarta-feira (7), dois homens armados vestidos de preto e usando coletes chegam ao número 6 da rua Nicolas-Appert, a duas portas do prédio da revista "Charlie Hebdo". Eles se aproveitaram da chegada de um carteiro ao edifício para entrarem no local.
– Já na recepção deste primeiro edifício, os homens perguntam se é ali a "Charlie Hebdo". Em seguida, um dos homens dispara uma bala que passa pela porta de vidro de um escritório.
– Os homens, então, se dão conta de que estão no prédio errado e saem. Eles vão até o número 10 da mesma rua, local da redação de "Charlie Hebdo" desde 1 de julho de 2014. No momento da invasão acontece uma reunião de pauta entre a equipe do semanário.
– No hall do prédio, os homens cruzam com dois funcionários da manutenção. Antes de atirar e matar um deles, Frédéric Boisseau, de 42 anos, eles perguntam se é ali a sede da revista.
– Na escada, eles encontram a cartunista Corinne Rey, conhecida como Coco, que eles fazem de refém. Ela tenta enganar os homens levando-os ao terceiro andar. A redação, onde acontece a reunião de pauta, fica no segundo andar do prédio.
– No segundo andar, os dois assaltantes encontraram outro homem e o ameaçam com a arma antes de repetir a pergunta "Onde é o Charlie Hebdo?”
– Por fim, os atiradores chegam à redação. Com uma arma apontada na cabeça, Coco é obrigada a inserir o código de segurança na porta que dá acesso à sala.
– A reunião havia começado há quase uma hora. Estavam na sala de reunião em volta de uma mesa oval o editor-chefe e cartunista Stéphane Charbonnier (Charb), os cartunistas Jean Cabu, Georges Wolinski, Bernard Verlhac (Tignous), Philippe Honoré e Riss, os jornalistas Laurent Léger, Fabrice Nicolino e Philippe Lançon, o economista Bernard Maris e as colunistas Sigolène Vinson e Elsa Cayat. Outras pessoas trabalhavam na sala principal da redação.
– Os atiradores encapuzados chamaram o nome de Charb e atiraram nele. Em seguida, chamaram os apelidos dos outros cartunistas e abriram fogo aos gritos de "Allahou akbar" e "Vocês vão pagar por insultarem o Profeta". Sete pessoas foram mortas na sala de reunião: Charb, Cabu, Wolinski, Tignous, Honoré, Bernard Maris e Elsa Cayat.
– Segundo o "Le Monde", os atiradores ainda colocaram a arma na cabeça de Sigolène Vinson e disseram: “Você não vamos matar porque não matamos mulheres, mas você vai ler o Alcorão”. Ela não se feriu. Outras três pessoas da reunião ficaram feridas: Philippe Lançon, no rosto, Riss, no ombro, e Fabrice Nicolino, na perna.
– Em seguida, os invasores atiraram em pessoas que estavam na redação. Mataram Michel Renaud, que visitava o jornal, e Mustapha Ourrad, revisor da publicação que tinha conseguido a cidadania francesa há algumas semanas. Eles feriram ainda o editor de mídias sociais Simon Fieschi. A cartunista Corinne Rey se escondeu debaixo de uma mesa e não foi atingida.
– Na saída, os atiradores mataram o policial Franck Brinsolaro, que fazia a segurança de Charb.
– Já na rua Richard-Lenoir, atiraram em outro policial, Ahmed Marebet. Ele caiu no chão e foi novamente atingido na cabeça por um dos atiradores.
– Em seguida, os atiradores retornam ao veículo sem qualquer sinal de pânico. Um deles ainda leva um tempo para pegar algo no chão antes de se sentar no banco do passageiro. Eles fogem e deixam o carro Citroën preto em uma rua, onde renderam o motorista de um Renault Clio cinza que roubaram para fugiram.