Arissandro
Moreira Santos, morador da localidade conhecida como Sítio Passa Fome,
no distrito de Pinhões, município de Juazeiro (BA), já experimentou, em
seus poucos 32 anos de vida, as agruras da seca. Diante da escassez de
chuvas, ele teve, por exemplo, de se desfazer de boa parte de seu
rebanho, sem contar a dificuldade para conseguir água para consumo e
outras necessidades básicas.
Mas
a realidade de Arissandro e sua família, aos poucos, vem sendo
transformada desde que foi instalado um poço tubular pela Companhia de
Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf) na
região. A água disponível é utilizada, principalmente, para beber e
regar a plantação que serve de alimento para a criação de bodes e
ovelhas. “Esse poço trouxe muitos benefícios pra gente. Com a água,
temos um pouco mais de sossego para alimentar nossos animais, e ela é de
boa qualidade pra gente beber. É uma vitória. Esse lugar é seco,
carente de água, então só tenho a agradecer”, comemora.
O
suprimento de água propiciado pela perfuração e instalação de poços
tubulares emergenciais pela Codevasf está oferecendo alívio a cerca de
30 mil famílias moradoras de comunidades rurais difusas severamente
afetadas pela seca em 183 municípios que têm estado de emergência
decretado pelo governo federal. A ação é executada com recursos de
destaque orçamentário da Secretaria Nacional de Proteção e Defesa Civil,
do Ministério da Integração Nacional (MI), e integra o programa Água
para Todos.
“Hoje
são 629 poços em operação, e até junho temos previsão de chegar a 911”,
afirma o engenheiro civil Elton Silva Cruz, coordenador do Água para
Todos na Codevasf. O investimento total é de R$ 44 milhões. A água
extraída dos poços, explica ele, é destinada a múltiplos usos: consumo
humano, dessedentação animal, tarefas de rotina das famílias como
cozinhar, tomar banho e lavar roupa; e também para assegurar a
sobrevivência de pequenos cultivos desenvolvidos em hortas e pomares.
São
193 poços já fornecendo água para comunidades rurais de 47 municípios
do semiárido mineiro, 120 em 57 municípios do Piauí, 201 em 14
municípios pernambucanos e 115 em 65 municípios da Bahia. Cada poço
fornece, em média, 5.150 litros de água a cada hora.
Os
poços do tipo tubular, observa Elton Cruz, são determinados pela
condição geológica dos locais. Eles são perfurados com uso de um tubo de
aço ou de PVC até que seja alcançada uma fratura da rocha, onde é
verificada a vazão e a qualidade da água. “Se a rocha tem muito calcário
na composição, há uma possibilidade maior de a água ser salobra, o que
limita seu uso – embora ainda assim essa água possa ser utilizada para
matar a sede das criações animais e para as tarefas de rotina”, ensina o
engenheiro da Codevasf.
No
processo de implantação do poço é instalado um chafariz no nível do
solo, que é uma espécie de caixa d’água com capacidade para 10 mil
litros, onde a água chega depois de ser sugada do poço por meio de um
sistema de bombeamento elétrico ou do tipo catavento. É desse
reservatório que a comunidade retira a água.
Além dos 629 poços já operando, outros 229 estão, nesse momento, em fase de instalação pela Codevasf. Dona
Rosemeire Ferreira de Assis, que mora na localidade Poções de Baixo, no
município mineiro de Francisco Sá, aguarda ansiosa pelo início do
funcionamento do equipamento que acaba de ser instalado em sua
comunidade. “A nossa expectativa é que todo mundo possa plantar uma
rocinha, possa ter uma água pra criar animais. A situação de água é
muito difícil, pois quase não chove nessa região. Esse poço deve atender
a mais de 20 famílias em nossa comunidade, algo em torno de 60
pessoas”, afirma.