Luiza Oliveira
O tempo em que Bud e Preta Vitória tinham rabinhos encolhidos e feições tristes acabou. Vítimas de maus-tratos em 2015, os dois cachorros passaram por tratamento (combinado com muito amor e carinho) e estão recuperados. O olhar desconfiado deu lugar a lambidas de gratidão e brincadeiras. Enquanto o macho segue recebendo cuidados dos mesmos tutores, a fêmea ganhou um novo lar.
Bud foi queimado vivo em agosto. Ele estava copulando com uma fêmea perto de casa quando o tutor dela jogou gasolina e ateou fogo no cachorro. Ele teve 40% do corpo queimado e passou por um longo tratamento no Hospital Veterinário Universitário (HVU) e em clínicas. Precisou retirar tecido morto, cuidar das feridas e se submeter a remoção do pênis e alargamento do ânus, que havia ficado estreito com a cicatrização.
Já Preta, que tem cerca de um ano, foi encontrada enforcada em uma árvore na beira do Arroio Cadena. Salva pelo irmão do suspeito de atear fogo em Bud, a cadelinha se equilibrava nas patinhas traseiras para evitar que o fio a sufocasse. Desnutrida e com o corpo tomado de sarna, ela recebeu tratamento e bastante vitaminas. Depois, foi castrada e doada para a nova família.
Leticia Adamy foi a veterinária responsável por parte do tratamento de Bud e por todo o acompanhamento de Preta. Foi ela que arranjou a adoção da cadelinha, que agora vive com o operador de máquinas Rudinei Mello e com a auxiliar de lavagem de materiais Mariza Mello.
– Adotamos a Preta em 21 de dezembro. Ela é um membro da família, parece criança. Quando chegamos em casa, ela vem pulando e fazendo festa. É uma cachorra muito feliz – diz Mariza.
Caso de Bud ainda segue tramitando na Justiça
As queimaduras sofridas pelo cachorro deixaram sequelas permanentes. Parte do pelo de Bud não crescerá mais. As almofadinhas das patinhas cicatrizaram encolhidas, tornando-as mais sensíveis. Por algum tempo, eliminar fezes e urina foi difícil devido à amputação do pênis e o estreitamento do ânus. Mas isso não é nada de que o cãozinho não dê conta. Com 8 anos, Bud enfrentou o tratamento com o apoio da sua família.
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– Ele é o amor da família. A recuperação foi difícil, ele ficou dois meses e cinco dias internado e, quando voltou para casa, o tratamento continuou. Ele era o guardião do pátio mas, agora, ele fica dentro de casa. Na rua, ele só sai acompanhado e com a guia. É um presente ver ele bem – conta Lucinda Gonçalves dos Santos, costureira e “mãe” do cachorro.
Mesmo em casa, Bud precisa de xampu e sabonetes especiais para o banho, já que parte da pele na sua barriga ainda está cicatrizando. Valmor dos Santos, militar aposentado e tutor do cão, atribui a recuperação do cachorrinho a todos que ajudaram financeiramente durante o período de tratamento:
– Esse tempo de internação foi custeado por doações. O que entrava para nós era direcionado para a clínica. Nós queremos agradecer o pessoal e fazer uma prestação de contas de tudo que foi feito – explica.
Mais calmo e um pouco retraído, Bud é coberto de mimos pelos tutores.
Serviços comunitários
Em novembro, o Ministério Público, por meio do promotor Maurício Trevisan, enviou uma proposta de transação penal à Justiça, já que os dois investigados por machucar Bud não tinham antecedentes por maus-tratos aos animais. Na proposta, os dois homens prestariam serviços à comunidade ou pagariam uma multa com valor determinado.
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Apesar de o advogado de defesa ter aceitado a moção, a juíza responsável pelo caso entendeu que a proposição tinha que ser maior. O MP manteve a proposta inicial e, agora, o processo segue em tramitação. Segundo o promotor, o que está em discussão é o benefício legal de transação penal. Não há prazo para que o processo termine.