quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

Indios isolados na Amazônia



       A produção de cocaína no Peru tem provocado o deslocamento de índios isolados na Amazônia. Se um dos grupos peruanos (foto) encontrar um dos grupos de isolados do Brasil, a reação natural dos grupos de defenderem seu território através de combate pode extinguir uma das comunidades. (Reuters)
A produção de cocaína no Peru tem provocado o deslocamento de índios isolados na Amazônia. Se um dos grupos peruanos (foto) encontrar um dos grupos de isolados do Brasil, a reação natural dos grupos de defenderem seu território através de combate pode extinguir uma das comunidades. (Reuters)
PALMAS, Brasil – Eles sobreviveram aos colonizadores e as gerações seguintes conseguiram se manter isoladas ao longo de 500 anos de desenvolvimento do Brasil, mas as famílias remanescentes agora correm risco de extinção.
No estado do Acre, na região da fronteira do Brasil com o Peru, cerca de 600 índios que nunca tiveram contato com a civilização estão ameaçados pelo tráfico de drogas, o comércio ilegal de madeira, a exploração de petróleo e projetos de integração viária na Amazônia.
O problema começou com a proposta de construção da rodovia Transoceânica, em 2006, explica Lindomar Padilha, coordenador do Conselho Indigenista Missionário (Cimi) da Amazônia Ocidental. Mas a situação se agravou com a retirada ilegal de madeira e a chegada de mineradoras clandestinas.
“Esses fatores provocaram um crescimento populacional da região e, naturalmente, o surgimento de toda sorte de comércio, inclusive o de drogas”, diz Padilha.
A suspeita de que esses índios estavam sendo ameaçados começou há cinco anos, quando a Fundação Nacional do Índio (Funai) percebeu reflexos de atividades madeireiras nos limites da fronteira, onde se concentra o maior número de isolados.
“Refugos de madeira começaram a aparecer boiando nos períodos de cheia do Rio Envira”, diz Carlos Travassos, coordenador de Índios Isolados e Recente Contato da Funai. “E logo aquelas atividades de exploração de madeira passaram a ser visíveis por imagens de satélite e do Google Earth.”
A presença de outras atividades ilícitas perto de territórios indígenas foram descobertas no ano passado, quando o narcotraficante português Joaquim Antônio Custódio Fadista foi preso, em agosto de 2011, depois de invadir e saquear, com um grupo de peruanos, a base da Frente de Proteção Etnoambiental do Rio Envira, criada para monitorar a parte brasileira do território dos indígenas.

       O narcotraficante português Joaquim Antônio Custódio Fadista foi preso, em agosto de 2011, depois de invadir e saquear, com um grupo de peruanos, a base da Frente de Proteção Etnoambiental do Rio Envira (foto), criada para monitorar o território dos indígenas. (Cortesia de Mário Vilela/Funai)
O narcotraficante português Joaquim Antônio Custódio Fadista foi preso, em agosto de 2011, depois de invadir e saquear, com um grupo de peruanos, a base da Frente de Proteção Etnoambiental do Rio Envira (foto), criada para monitorar o território dos indígenas. (Cortesia de Mário Vilela/Funai)
O território consiste em mais de 600.000 hectares , na fronteira do Acre com o Peru, onde a entrada do “homem branco” não é permitida sem autorização.
Travassos calcula que, das 72 tribos de isolados que foram localizadas no território nacional, quatro estão sendo monitoradas na região.
“Nos sobrevoos percebemos a produção de roças e malocas [casas coletivas]. Monitoramos a área depois da prisão do português e eles estavam aparentemente bem”, diz ele, que faz a inspeção uma vez por ano.
Entre 2001 e 2010, morreram 325 índios contatados na área, ou 8% da população total, segundo relatório de dezembro de 2010 da organização não-governamental Centro de Trabalho Indigenista (CTI).
Na maioria dos casos, as mortes ocorreram por causa de doenças infectocontagiosas ou conflitos por terra.