Indios isolados na Amazônia
No estado do Acre, na região da fronteira do Brasil com o Peru, cerca de 600 índios que nunca tiveram contato com a civilização estão ameaçados pelo tráfico de drogas, o comércio ilegal de madeira, a exploração de petróleo e projetos de integração viária na Amazônia.
O problema começou com a proposta de construção da rodovia Transoceânica, em 2006, explica Lindomar Padilha, coordenador do Conselho Indigenista Missionário (Cimi) da Amazônia Ocidental. Mas a situação se agravou com a retirada ilegal de madeira e a chegada de mineradoras clandestinas.
“Esses fatores provocaram um crescimento populacional da região e, naturalmente, o surgimento de toda sorte de comércio, inclusive o de drogas”, diz Padilha.
A suspeita de que esses índios estavam sendo ameaçados começou há cinco anos, quando a Fundação Nacional do Índio (Funai) percebeu reflexos de atividades madeireiras nos limites da fronteira, onde se concentra o maior número de isolados.
“Refugos de madeira começaram a aparecer boiando nos períodos de cheia do Rio Envira”, diz Carlos Travassos, coordenador de Índios Isolados e Recente Contato da Funai. “E logo aquelas atividades de exploração de madeira passaram a ser visíveis por imagens de satélite e do Google Earth.”
A presença de outras atividades ilícitas perto de territórios indígenas foram descobertas no ano passado, quando o narcotraficante português Joaquim Antônio Custódio Fadista foi preso, em agosto de 2011, depois de invadir e saquear, com um grupo de peruanos, a base da Frente de Proteção Etnoambiental do Rio Envira, criada para monitorar a parte brasileira do território dos indígenas.
Travassos calcula que, das 72 tribos de isolados que foram localizadas no território nacional, quatro estão sendo monitoradas na região.
“Nos sobrevoos percebemos a produção de roças e malocas [casas coletivas]. Monitoramos a área depois da prisão do português e eles estavam aparentemente bem”, diz ele, que faz a inspeção uma vez por ano.
Entre 2001 e 2010, morreram 325 índios contatados na área, ou 8% da população total, segundo relatório de dezembro de 2010 da organização não-governamental Centro de Trabalho Indigenista (CTI).
Na maioria dos casos, as mortes ocorreram por causa de doenças infectocontagiosas ou conflitos por terra.