Por Thiago Borges para Infosurhoy.com – 18/12/2012
Mas sua nova vida começou em 2006, quando passou pela Associação Lua Nova.
Criada pela avó até os 12 anos, Edna morou na casa de outros parentes, passou por abrigos e acabou nas ruas de São Paulo.
Aos 13, começou a usar drogas.
Aos 16, usuária de crack e mãe de uma menina de 9 meses, Edna conheceu a psicóloga Raquel Barros.
Após sete anos trabalhando com dependentes de heroína na Itália, Raquel voltou ao Brasil com o objetivo de ajudar mães adolescentes viciadas em crack. Em 2000, ela fundou a Associação Lua Nova, que atende, em sua maioria, jovens entre 14 e 20 anos.
“Essas meninas geralmente vivem com os filhos nas ruas. Muitas engravidaram ao sofrerem exploração sexual e usam drogas durante toda a gravidez”, diz Raquel.
Como Edna corria o risco de perder a guarda da filha para o conselho tutelar, ela preferiu continuar no abrigo em que morava, em São Paulo, e não ingressou na Lua Nova.
Após sua filha ser adotada por outra família, Edna teve outro filho, que morreu de pneumonia enquanto ela estava na terceira gravidez.
“Depois da morte do meu segundo filho, a Raquel ficou sabendo e me procurou para fazer um trabalho [de recuperação] comigo. Eu não aceitava que ele tinha morrido”, diz Edna, que em 2006 morou na Associação Lua Nova.
O principal foco da entidade não é o tratamento do vício, mas a construção da autonomia e de novos vínculos sociais para que elas não voltem ao ciclo de pobreza e violência.
“As pessoas se relacionam com drogas porque têm poucas relações com outras pessoas”, diz Raquel. “Essa questão acaba na medida em que geramos outra oportunidade de relação dessas meninas com o mundo.”
Na associação, as jovens participam de atividades de geração de renda, como a fábrica de bonecas, a padaria e a empreiteira de construção civil.
Elas também recebem orientação para se estruturarem financeiramente.
Por meio de um acordo com o governo federal, a Lua Nova dissemina sua metodologia a entidades de outros 13 estados brasileiros. A associação também tem parcerias com governos e organizações da Argentina, Chile, Colômbia, Costa Rica e Peru.
Nesses casos, o papel da Lua Nova é ensinar como chegar até essas jovens, acolhê-las e proporcionar a autonomia a elas. Todo o trabalho é feito pelas organizações locais, e a entidade de Sorocaba acompanha à distância, dando suporte técnico.
Em Sorocaba, a Lua Nova abriga 32 jovens e 40 crianças. A associação também acompanha outras 160 mães que moram sozinhas ou em grupos.
Mais de 3.500 mães já foram atendidas pela Lua Nova. Dessas, 72% pararam de usar drogas enquanto algumas migraram para outros entorpecentes, como maconha.
Essa é uma das variáveis de mensuração do impacto, que avalia se as crianças estão na escola, se as mães mantêm contato com familiares e amigos, se têm moradia fixa etc..
“Eu ganhei a responsabilidade de acordar cedo, trabalhar, levar minha filha na creche”, conta Edna, que hoje vive com a filha caçula em Araçoiaba, a 30 minutos de Sorocaba.
Na Lua Nova, Edna é educadora de outras jovens com uma trajetória parecida com a dela.
“É bom saber que elas se sentem capazes. Aqui na Lua Nova ninguém nos vê como coitadas, e sim como parceiras”, diz Edna.