autonomia para cuidar de si e de seus filhos.
Por Thiago Borges para Infosurhoy.com – 18/12/2012
Na Associação Lua Nova, jovens mães participam de projetos de geração
de renda, como a Empreiteira Escola, em que aprendem noções de
construção civil. (Cortesia da Associação Lua Nova)
SÃO PAULO, Brasil – Oficialmente, Edna Santos Lima nasceu em 1983.
Mas sua nova vida começou em 2006, quando passou pela Associação Lua Nova.
Criada pela avó até os 12 anos, Edna morou na casa de outros parentes, passou por abrigos e acabou nas ruas de São Paulo.
Aos 13, começou a usar drogas.
Aos 16, usuária de crack e mãe de uma menina de 9 meses, Edna conheceu a psicóloga Raquel Barros.
Após sete anos trabalhando com dependentes de heroína na Itália,
Raquel voltou ao Brasil com o objetivo de ajudar mães adolescentes
viciadas em crack. Em 2000, ela fundou a Associação Lua Nova, que
atende, em sua maioria, jovens entre 14 e 20 anos.
“Essas meninas geralmente vivem com os filhos nas ruas. Muitas
engravidaram ao sofrerem exploração sexual e usam drogas durante toda a
gravidez”, diz Raquel.
Além de acolher jovens mães, a Lua Nova investe no desenvolvimento de
habilidades, como a fábrica de bonecas. (Cortesia da Associação Lua
Nova)
A Associação Lua Nova fica na cidade de Sorocaba, a 100 km da capital
paulista. Para ser atendida, a jovem precisa ser mãe ou gestante, estar
em situação de vulnerabilidade e ter vontade de desenvolver um projeto
de vida.
Como Edna corria o risco de perder a guarda da filha para o conselho
tutelar, ela preferiu continuar no abrigo em que morava, em São Paulo, e
não ingressou na Lua Nova.
Após sua filha ser adotada por outra família, Edna teve outro filho,
que morreu de pneumonia enquanto ela estava na terceira gravidez.
“Depois da morte do meu segundo filho, a Raquel ficou sabendo e me
procurou para fazer um trabalho [de recuperação] comigo. Eu não aceitava
que ele tinha morrido”, diz Edna, que em 2006 morou na Associação Lua
Nova.
O principal foco da entidade não é o tratamento do vício, mas a
construção da autonomia e de novos vínculos sociais para que elas não
voltem ao ciclo de pobreza e violência.
“As pessoas se relacionam com drogas porque têm poucas relações com
outras pessoas”, diz Raquel. “Essa questão acaba na medida em que
geramos outra oportunidade de relação dessas meninas com o mundo.”
Na associação, as jovens participam de atividades de geração de
renda, como a fábrica de bonecas, a padaria e a empreiteira de
construção civil.
Em Cali, na Colômbia, integrantes da Lua Nova explicam sua
metodologia para um grupo local de combate ao uso de drogas. (Cortesia
da Associação Lua Nova)
Mais que renda, a proposta é permitir que cada uma descubra que é capaz de fazer algo.
Elas também recebem orientação para se estruturarem financeiramente.
Por meio de um acordo com o governo federal, a Lua Nova dissemina sua
metodologia a entidades de outros 13 estados brasileiros. A associação
também tem parcerias com governos e organizações da Argentina, Chile,
Colômbia, Costa Rica e Peru.
Nesses casos, o papel da Lua Nova é ensinar como chegar até essas
jovens, acolhê-las e proporcionar a autonomia a elas. Todo o trabalho é
feito pelas organizações locais, e a entidade de Sorocaba acompanha à
distância, dando suporte técnico.
Em Sorocaba, a Lua Nova abriga 32 jovens e 40 crianças. A associação
também acompanha outras 160 mães que moram sozinhas ou em grupos.
Mais de 3.500 mães já foram atendidas pela Lua Nova. Dessas, 72%
pararam de usar drogas enquanto algumas migraram para outros
entorpecentes, como maconha.
Essa é uma das variáveis de mensuração do impacto, que avalia se as
crianças estão na escola, se as mães mantêm contato com familiares e
amigos, se têm moradia fixa etc..
“Eu ganhei a responsabilidade de acordar cedo, trabalhar, levar minha
filha na creche”, conta Edna, que hoje vive com a filha caçula em
Araçoiaba, a 30 minutos de Sorocaba.
Na Lua Nova, Edna é educadora de outras jovens com uma trajetória parecida com a dela.
“É bom saber que elas se sentem capazes. Aqui na Lua Nova ninguém nos vê como coitadas, e sim como parceiras”, diz Edna.