
Jovens do projeto em aula.
Se em outros tempos os jovens deixavam a
escola para correr riscos de mutilações ao som do motor de sisal, no
duro trabalho do campo, hoje uma proposta inédita começa a extrair novos
sons no semiárido baiano, para além dos sons do motor paraibano.
Trata-se de um projeto inovador e criativo que faz de oficinas de música
e construção de instrumentos musicais com material extraído da planta
símbolo da região, o sisal, uma nova forma de geração de valores
culturais, sociais e econômicos.
Este projeto, intitulado de “O Som do
Sisal”, despertou a atenção do renomado músico e luthier de São Paulo,
Fernando Sardo, que se deslocou até Conceição do Coité, cidade do
semiárido baiano e sede do projeto, para conhecer o processo de
construção de instrumentos musicais a partir do sisal. Músico multi –
instrumentista, compositor, artista-plastico, luthier (profissional que
fabrica instrumentos) e artista educador, Fernando constrói
instrumentos, esculturas sonoras e instalações musicais que podem ser
encontradas em diversos parques e espaços culturais no Brasil e no
exterior.

Fernando Sardo: músico multi – instrumentista, compositor, artista-plastico, luthier e artista educador.
Na semana passada, mesmo período que a
orquestra coiteense retornava da Europa, ele foi conhecer de perto o
espaço onde funciona há mais de um ano um pequeno laboratório de
construção de instrumentos musicais. O que o atraiu foi o diferencial do
projeto, que utiliza matérias primas alternativas para a confecção de
instrumentos, os resíduos e partes da planta (flecha do sisal) que não
aproveitadas na atividade industrial. Durante a visita, o paulistano
ministrou oficinas de luteria a um grupo de jovens, tendo em vista o
aprimoramento dos instrumentos já criados pelos mesmos, como: violinhas,
cavaquinhos e rabecas.
A flecha do sisal, ou ainda haste ou
madeira do sisal, é a principal matéria-prima utilizada na construção
destes instrumentos. Ela é encontrada em abundância não só em Conceição
do Coité, mas em toda a região circunvizinha, devido ao fato de que a
economia local, historicamente gira em torno da produção da fibra
vegetal oriunda da Agave sisalana.
O idealizador do projeto é o músico
autodidata Josevaldo Silva. Com apenas 26 anos, Nim, como também é
conhecido popularmente, é Maestro da Orquestra Santo Antônio, e já conta
no seu histórico artístico cultural com diversas experiências em
desenvolvimento de projetos sempre de caráter inovador.

Josevaldo comenta que o projeto “O Som
do Sisal” é uma proposta inovadora que engloba as esferas cultural,
socioeconômica e da sustentabilidade, ou seja, agrega valor simbólico a
forma de sobrevivência na região do sisal. “O território do sisal tem
uma diversidade cultural muito rica e extensa, a música é parte muito
importante dessa composição. Ainda não encontramos relatos de
instrumentos musicais construídos com partes da planta do sisal,
portanto, quem sabe não estamos inventando algo que pode ficar marcado
na história do nosso povo e principalmente oportunizar cada vez mais
jovens a produzir música com sisal e tirar um sustento de forma mais
digna.” afirmou.
O Projeto “O Som do Sisal” consiste na
realização de oficinas de construção de instrumentos e iniciação musical
e prevê apresentações artísticas dos alunos como resultado final das
atividades. As ações contemplam, além de Conceição do Coité, os
municípios de Valente e Santa Luz, todas integrantes do polo industrial
do sisal. O projeto foi viabilizado através da aprovação no edital
22/2014 – Territórios Culturais, do Fundo de Cultura do Estado da Bahia,
uma parceria entre a Secretaria de Cultura e Secretaria da Fazenda do
Estado da Bahia.